key: cord-0926781-a00vdbrh authors: Lisboa, Luiz Augusto; Mejia, Omar Asdrúbal Vilca; Arita, Elisandra Trevisan; Guerreiro, Gustavo Pampolha; da Silveira, Lucas Molinari Veloso; Brandão, Carlos Manuel de Almeida; Dias, Ricardo Ribeiro; Dallan, Luís Roberto Palma; Miana, Leonardo; Caneo, Luiz F.; Jatene, Marcelo Biscegli; Dallan, Luís Alberto Oliveira; Jatene, Fabio Biscegli title: Impacto da Primeira Onda da Pandemia de COVID-19 na Cirurgia Cardiovascular no Brasil: Análise de um Centro Terciário de Referência date: 2022-03-10 journal: Arquivos brasileiros de cardiologia DOI: 10.36660/abc.20210235 sha: cb4eb7f8963a91cfc33b1a8e85bae8c8202f3f28 doc_id: 926781 cord_uid: a00vdbrh nan A nova infecção respiratória viral causada pela doença de coronavírus 2019 (COVID-19), inicialmente conhecida como 2019-nCoV, surgiu no final de dezembro de 2019 em Wuhan, China, e rapidamente se espalhou pela Ásia, Europa e EUA, caracterizando uma situação de pandemia. 1 Em maio de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou o Brasil um novo epicentro da pandemia de coronavírus. Com os níveis alarmantes de disseminação e gravidade da COVID-19, grandes interrupções nos serviços hospitalares de rotina ocorreram à medida que os hospitais se ajustavam com a finalidade de aumentar a capacidade de atendimento aos pacientes com SARS-CoV-2. 2 Nesse contexto, foram adiadas as cirurgias eletivas com a finalidade de otimizar recursos de saúde e questões de pessoal e de proteger os pacientes da transmissão viral hospitalar. 3 Embora tenham sido observadas redução do volume cirúrgico e maiores taxas de mortalidade em pacientes operados durante a primeira onda do período pandêmico, ainda não tem sido completamente documentado e compreendido o impacto causado pela pandemia de COVID-19, especificamente na cirurgia cardiovascular. 4 Com o objetivo de esclarecer essas questões e embasar ações futuras para a retomada das unidades de cirurgia cardiovascular, foi realizada uma análise retrospectiva dos dados cirúrgicos em um centro de referência de grande volume de cirurgia cardiovascular no Brasil, o epicentro da pandemia COVID-19 na América Latina. Os pacientes incluídos neste estudo foram submetidos à cirurgia cardiovascular maior para adultos ou cirurgia cardíaca congênita e foram categorizados em três estados pré-operatórios: cirurgia eletiva, urgente e de emergência, de acordo com a definição de EuroSCORE II. 5 Foram excluídos da presente análise pacientes submetidos a transplante cardíaco ou procedimentos de resgate. Os desfechos primários foram o volume geral de cirurgia cardiovascular e a mortalidade hospitalar, comparando os dois períodos selecionados e os diferentes meses do começo de 2020. A mortalidade hospitalar incluiu pacientes que foram a óbito num período de 30 dias após operação e aqueles que foram a óbito mais tarde durante o período de hospitalização. As variáveis categóricas foram expressas como frequências e porcentagens e comparadas pelo teste qui-quadrado de Pearson ou teste exato de Fisher entre os períodos. Foi considerado estatisticamente significativo α bilateral inferior a 0,05. Todas as análises estatísticas foram realizadas com SPSS, versão 25.0. De 1º de janeiro a 31 de outubro de 2020, 1.056 pacientes foram submetidos à cirurgia cardiovascular em nosso instituto. Com o avanço da pandemia no início de 2020, houve redução no número de cirurgias a partir de março, com retomada a partir de julho. Em janeiro de 2020, foram realizadas 218 cirurgias cardiovasculares e, no auge da pandemia, em maio, apenas 47 cirurgias cardiovasculares foram realizadas. Em outubro, o volume cirúrgico voltou a 122 procedimentos cardiovasculares. A mortalidade hospitalar pós-operatória Comparando o período pandêmico (março a julho) de 2020 com o mesmo período (março a julho) de 2019, houve uma redução de 65,8% (de 1.085 para 371, em 2019 e 2020, respectivamente) no número total de cirurgias cardiovasculares realizadas. Em março de 2020 (período inicial da pandemia), a redução no volume de cirurgias cardiovasculares foi de 24,4% e, em maio de 2020 (pico pandêmico), foi de 80,0%. A mortalidade hospitalar pós-operatória teve uma correlação inversa, com um aumento significativo de 5,5% (março a julho de 2019) para 13,7% (março a julho de 2020), p < 0,001. A análise retrospectiva de um banco de dados nacional representativo de um centro de alto volume no Brasil mostrou redução no volume geral de cirurgias cardiovasculares, Com a propagação da pandemia e as grandes interrupções nas rotinas hospitalares, houve um aumento na mortalidade observada em procedimentos de cirurgia cardiovascular. COVIDSurg collaborative, uma coorte multicêntrica de cirurgias, incluiu 50 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e a mortalidade em 30 dias foi de 34%, entre os pacientes que tiveram infecção perioperatória por SARS-CoV-2. 4 No período pandêmico, observamos mortalidade hospitalar de 13,7%, sendo de 35,9% entre os pacientes que tiveram COVID-19 pós-operatória. Embora tenha ocorrido um aumento da proporção de procedimentos de urgência e emergência e aumento do EuroSCORE II durante o período pandêmico, a mortalidade observada ainda foi superior à esperada. Este aumento na mortalidade observada no pósoperatório pode estar associada diretamente à infecção por SARS-CoV-2 e indiretamente devido ao cenário geral de interrupções hospitalares. 4 Em relação à cirurgia cardíaca congênita, não houve diferenç significativa na mortalidade hospitalar entre os dois períodos (7,0% versus 8,8%). Existem dois motivos que podem justificar esta diferença. Os fluxos hospitalares de cirurgia cardíaca congênita já eram anteriormente separados e permaneceram mais isolados durante a pandemia. Outro fator é que, embora as crianças tenham a mesma probabilidade de serem infectadas pelo SARS-CoV-2, assim como os adultos, elas apresentam menos sintomas e doença menos grave. 7, 8 À medida que a pandemia de COVID-19 diminui, muitas instituições passaram a estudar estratégias adequadas para reiniciar a cirurgia cardiovascular de rotina e reavaliar a lista de espera para minimizar a mortalidade durante o período de espera. Todas as recomendações das autoridades de saúde pública em relação à contenção de COVID-19 devem continuar a ser seguidas a fim de minimizar a propagação da doença, garantir a segurança dos pacientes e proteger os profissionais de saúde. 9,10 Os pacientes que estão aguardando cirurgia cardíaca eletiva precisam ser gerenciados de forma proativa, dando prioridade àqueles com anatomia de alto risco ou àqueles cujo estado clínico está se deteriorando. 3, 4 Com aprendizado contínuo, troca de informações, dados coletados e resultados conhecidos, podemos implementar uma estrutura de prevenção de incidentes que permite a criação colaborativa de medidas de qualidade e segurança para a próxima etapa de retomada da cirurgia cardiovascular, minimizando problemas durante outra onda de infecção. Gostaríamos de agradecer ao nosso instituto pelo apoio acadêmico para este projeto. WHO declares COVID-19 a pandemic Hospital Preparedness for COVID-19: A Practical Guide from a Critical Care Perspective Impact of the Coronavirus (COVID-19) pandemic on surgical practice -Part 2 (surgical prioritisation) Mortality and pulmonary complications in patients undergoing surgery with perioperative SARS-CoV-2 infection: an international cohort study Cardiac Surgery in Canada During the COVID-19 Pandemic: A Guidance Statement From the Canadian Society of Cardiac Surgeons COVID-19 and Congenital Heart Disease: Results from a Nationwide Survey COVID-19: Updated Data and its Relation to the Cardiovascular System Global guidance for surgical care during the COVID-19 pandemic Safe Reintroduction of Cardiovascular Services During the COVID-19 Pandemic: From the North American Society Leadership Referências Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença de atribuição pelo Creative Commons *Material suplementar Para informação adicional, por favor Não há conflito com o presente artigo O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Não há vinculação deste estudo a programas de pósgraduação.