key: cord-0999020-8rs2s1kg authors: Santos, Lucas Gomes; Baggio, Jussara Almeida de Oliveira; Leal, Thiago Cavalcanti; Costa, Francisco A.; Fernandes, Tânia Rita Moreno de Oliveira; da Silva, Regicley Vieira; Armstrong, Anderson; Carmo, Rodrigo Feliciano; de Souza, Carlos Dornels Freire title: Prevalência de Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus em Indivíduos com COVID-19: Um Estudo Retrospectivo de Óbitos em Pernambuco, Brasil date: 2021-08-09 journal: Arq. bras. cardiol DOI: 10.36660/abc.20200885 sha: 603a60d1974fa35ef82e16f27575160e74361d44 doc_id: 999020 cord_uid: 8rs2s1kg Hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes mellitus (DM) são dois dos principais fatores de risco para a mortalidade por COVID-19. Descrever a prevalência e o perfil clínico-epidemiológico de óbito por COVID-19 ocorridos em Pernambuco, Brasil, entre 12 de março e 14 de maio de 2020 entre pacientes que possuíam hipertensão arterial sistêmica e/ou diabetes mellitus como doenças prévias. Estudo observacional transversal. Foram analisadas as seguintes variáveis: município de procedência, sexo, faixa etária, tempo entre o início dos sinais/sintomas e o óbito, sinais/sintomas, tipo de comorbidades e hábitos de vida. Variáveis categóricas foram descritas por meio de frequências e variáveis contínuas por meio de medidas de tendência central e de dispersão. Os testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis foram utilizados. Dos 1.276 registros incluídos no estudo, 410 apresentavam HAS e/ou DM. A prevalência de HAS foi 26,5% (n=338) e de DM foi 19,7% (n=252). Dos registros, 158 (12,4%) eram de pacientes que possuíam somente HAS, 72 (5,6%) somente DM e 180 (14,1%) apresentavam HAS e DM. Dos indivíduos com HAS, 53,3% apresentavam DM e 71,4% dos diabéticos apresentam HAS. A mediana (em dias) do tempo entre o início dos sinais/sintomas e o desfecho óbito foi 8,0 (IIQ 9,0), sem diferença significativa entre os grupos de comorbidades (p=0,633), sexo (p=0,364) e faixa etária (p=0,111). Observou-se maior prevalência de DM e HAS na população masculina (DM — 61,3% eram homens e 38,9% mulheres; HAS — 53,2% eram homens e 46,8% mulheres). Os sinais/sintomas mais frequentes foram dispneia (74,1%; n=304), tosse (72,2%; n=296), febre (68,5%; n=281) e saturação de O2<95% (66,1%; n=271). Dos hipertensos, 73,3% (n=100) apresentavam outras comorbidades/fatores de risco associados, e 54,2% (n=39) dos diabéticos apresentavam outras comorbidades/fatores de risco associados. Destacaramse as cardiopatias (19,5%; n=80), obesidade (8,3%; n=34), doença respiratória prévia (7,3%; n=30) e nefropatia (7,8%; n=32). A prevalência de tabagismo foi 8,8% (n=36) e de etilismo alcançou 3,4% (n=14). O estudo mostrou que a prevalência de HAS foi superior à prevalência de DM nos indivíduos que foram a óbito por COVID-19. Em idosos, a prevalência foi superior à observada em indivíduos não idosos. Hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes mellitus (DM) são dois dos principais fatores de risco para a mortalidade por COVID-19. Descrever a prevalência e o perfil clínico-epidemiológico de óbito por COVID-19 ocorridos em Pernambuco, Brasil, entre 12 de março e 14 de maio de 2020 entre pacientes que possuíam hipertensão arterial sistêmica e/ou diabetes mellitus como doenças prévias. e sua fisiopatologia parece favorecer o desenvolvimento de quadros mais graves. [7] [8] [9] Com a doença ainda em expansão em território brasileiro, é importante entender as características das pessoas infectadas no país e também em diferentes estados, devido ao tamanho continental e as diferenças socioeconômicas presentes no Brasil. 10 O estado de Pernambuco foi particularmente afetado, com registro de 98.833 casos e 6.717 óbitos em 4 de agosto de 2020. 11 Dessa forma, o presente estudo teve como principal objetivo descrever a prevalência e o perfil clínico-epidemiológico de óbitos por COVID-19 ocorridos em Pernambuco entre 12 de março e 14 de maio de 2020, entre pacientes que possuíam hipertensão arterial sistêmica e/ou diabetes mellitus como doenças prévias. Para a análise estatística, inicialmente, as variáveis categóricas foram descritas por meio de frequências (absolutas e relativas) e as variáveis contínuas por meio de medidas de tendência central e de dispersão. Para a comparação do tempo de início dos sintomas e o óbito entre os sexos feminino e masculino, utilizou-se o teste de Mann-Whitney, e entre as faixas etárias e grupo de comorbidades, utilizou-se o teste de Kruskal-Wallis com a aplicação posterior de teste post-hoc. Considerou-se intervalo de confiança de 95% e significância de 5%. As análises foram realizadas com o auxílio do software SPSS versão 24.0 (IBM Corporation). Por utilizar dados de domínio público, nos quais não é possível a identificação dos indivíduos, este estudo dispensou a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa. No que concerne às comorbidades/fatores de risco associados, observou-se que 73,3% (n=100) dos hipertensos e 54,2% (n=39) dos diabéticos apresentavam outras comorbidades/fatores de risco associados. No grupo com HAS+DM, esse percentual foi de 54,4% (n=141). Dentre as comorbidades mais comuns, destacaram-se: cardiopatias (19,5%/n=80), obesidade (8,3%; n=34), doença respiratória prévia (7,3%; n=30) e nefropatia (7,8%; n=32). A prevalência de tabagismo (atual ou pregresso) alcançou 8,8% (n=36) e o etilismo (atual ou pregresso) alcançou 3,4% (n=14) (Tabela 1). A concentração dos óbitos descritos no presente estudo se concentra em municípios de maior porte (Recife e Jaboatão dos Guararapes) e pode relacionar-se ao número de indivíduos expostos e à circulação de pessoas, já que essas são as duas cidades mais populosas do estado. Soma-se a este fato a composição etária da população e da elevada prevalência de doenças crônicas não transmissíveis. 12 Além disso, a disseminação da COVID-19 em Pernambuco parece seguir o padrão de outros países: a partir de grandes centros urbanos, se dissemina para cidades médias e pequenas. 13 No que se refere à faixa etária, nota-se que a maior parte dos óbitos ocorreu em pessoas acima de 60 anos, principalmente na faixa etária de 70 a 79 anos, similar ao que tem sido observado em outros países previamente afetados pela pandemia. 7,8 O perfil de comorbidades da população brasileira também é um fator a ser levado em consideração. A prevalência de DM é de 9,4% na população geral e se torna ainda mais significante com o aumento da idade, cuja prevalência é de 22,6% na população maior de 60 anos. 14 Já a prevalência de HAS é de cerca de 24,0%, alcançando 60,9% na população idosa. 15 Indivíduos com HAS e DM prévio apresentam maior probabilidade de desenvolverem quadros mais graves da COVID-19, por vezes fatais. 16 Além da idade, o sexo é outra característica relevante. Em revisão realizada por Li et al., 17 Até o momento, sabe-se que o vírus SARS-CoV-2 liga-se à enzima conversora de angiotensina 2 (ECA-2), diminuindo a atividade desse tipo de receptor e levando a aumento da permeabilidade vascular. 22 Este receptor tem uma expressão maior nos pulmões e no coração, sendo fundamental para o funcionamento desses sistemas. 23 Em pacientes com HAS e DM, existe um aumento desse tipo de receptor em comparação com a população saudável, o que pode levar ao desenvolvimento de quadros mais severos da doença. 23 Além do mais, o SARS-CoV-2 promove lesão endotelial principalmente nos capilares pulmonares, promovendo um estado pró-coagulação, estado vascular inflamatório e de infiltrado celular, o que pode justificar quadros mais graves em pacientes com DM e obesos. [24] [25] [26] Adicionalmente, os indivíduos com DM parecem apresentar uma resposta ao SARS-CoV-2 com grandes volumes por interferon (IFN) e resposta tardia de Th1/Th17, contribuindo para uma resposta inflamatória mais intensa. 27 Um recente estudo in vitro demonstrou que a concentração de glicose em monócitos estava relacionada a um aumento da replicação viral e produção de citocinas pró-inflamatórias. 28 O somatório de diferentes comorbidades em um mesmo indivíduo pode resultar em amplificação da resposta inflamatória e favorecer a rápida progressão e/ou agravamento do quadro clínico, reduzindo a sobrevida dos pacientes. 27, 28 Nessa análise, as comorbidades mais prevalentes associadas ao DM e à HAS foram cardiopatia não especificada e obesidade. Essas comorbidades também foram observadas em estudo conduzido em Nova York, no qual 18,0% dos indivíduos possuíam cardiopatia e 41,7%, obesidade. 5 Atualmente, a alta prevalência de obesidade tem sido um grave problema de saúde pública na maioria dos países, inclusive no Brasil. Os hábitos de vida, tais como tabagismo e etilismo, também podem agravar ainda mais esse risco quando relacionado à COVID-19. Indivíduos fumantes, quando infectados, apresentam 3,5 vezes mais chance de desenvolver formas mais agressivas da doença do que não fumantes. 29 Por conseguinte, a prática aumenta o risco de lesão pulmonar culminando em bronquiolite respiratória crônica, diversos tipos de pneumonia, cânceres e enfisema pulmonar, 30 que individualmente são fatores de risco para o SARS-CoV-2 e, em conjunto, diminuem a função pulmonar, aumentando a susceptibilidade ao vírus. Sobre o consumo de bebidas alcoólicas, entende-se que, quando realizado de forma crônica, resulta em aumento das respostas pró-inflamatórias e redução das defesas antiinflamatórias intermediadas pelas citocinas. 31 Associado a isso, o sistema imunológico como um todo é prejudicado com a prática do etilismo por reduzir a capacidade de combater agentes infecciosos através da imunidade inata e adaptativa, expondo de forma mais agressiva os contaminados pelo SARS-CoV-2. 31 Ainda não se conhece os efeitos acumulados das comorbidades no agravamento e mortalidade pela COVID-19. É provável que o somatório de comorbidades possa atuar em conjunto para facilitar tanto a entrada celular do SARS-CoV-2 mediada pela ACE-2 26 nas células quanto favorecer respostas inflamatórias mais agressivas. Estudos sobre esses aspectos são fortemente recomendados. Mesmo com todos os cuidados metodológicos adotados, este estudo possui limitações: i. A base utilizada é de domínio público e foi construída a partir das fichas de notificação da COVID-19, sem a adequada padronização das variáveis e a ausência de detalhamento das informações (níveis glicêmicos, estágio da obesidade, controle pressórico, dentre outros); ii. Ao longo da pandemia, diferentes formulários de notificação foram sendo implementados, com exclusão e/ou adição de variáveis; e iii. Por se tratar de uma doença nova, sem clareza do rol de sinais/sintomas, é provável que os menos comuns não tenham sido identificados pelos pacientes e registrados, sobretudo no início da pandemia. A prevalência de HAS foi superior à prevalência de DM nos indivíduos que foram a óbito por COVID-19. Em idosos, a prevalência foi superior à observada em indivíduos não idosos. Além disso, verificou-se importante acúmulo de comorbidades e fatores de risco. O perfil clínico e epidemiológico foi caracterizado por idosos, sinais/sintomas indicativos de comprometimento respiratório e predomínio de mais de uma comorbidade. Não se observou diferença entre o tempo do início dos primeiros sintomas e o óbito na análise segundo sexo e faixa etária. Recomendamos estudos que possam estimar o risco de gravidade de acordo com o número e o tipo de comorbidades preexistentes. Concepção e desenho da pesquisa; Obtenção de dados; Análise e interpretação dos dados; Análise estatística; Obtenção de financiamento; Redação do manuscrito e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Santos LG, Baggio JAO, Leal TC, Costa FA, Fernandes TRMO, Silva RV, Armstrong A, Carmo RF, Souza CDF Não há conflito com o presente artigo. O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Não há vinculação deste estudo a programas de pósgraduação. Este artigo não contém estudos com humanos ou animais realizados por nenhum dos autores. COVID-19 infection: Origin, transmission, and characteristics of human coronaviruses COVID-19 e o Coração. Arq Bras Cardiol Coronavirus disease (COVID-19) outbreak situation Similarity in Case Fatality Rates (CFR) of COVID-19/SARS-COV-2 in Italy and China COVID-19 infection: Origin, transmission, and characteristics of human coronaviruses Presenting Characteristics, Comorbidities, and Outcomes Among 5700 Patients Hospitalized With COVID-19 in the Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study COVID-19: the vasculature unleashed COVID-19 in Brazil Informe Epidemiológico Nº 156/2020 -Pernambuco. 04 de agosto de 2020. Pernambuco (PE); 2020 Doenças crônicas não transmissíveis e fatores associados em adultos numa área urbana de pobreza do nordeste brasileiro Expansion of COVID-19 within Brazil: the importance of highways Prevalência de diabetes mellitus determinada pela hemoglobina glicada na população adulta brasileira, Pesquisa Nacional de Saúde Vigitel Brasil COVID-19 and diabetes: The why, the what and the how COVID-19 patients' clinical characteristics, discharge rate, and fatality rate of meta-analysis Does Existence of Prior Circulatory System Diseases Accelerate Mortality Due to COVID-19? Arq Bras Cardiol A Novel Coronavirus from Patients with Pneumonia in China Epidemiology, Causes, Clinical Manifestation and Diagnosis, Prevention and Control of Coronavirus Disease (COVID-19) During the Early Outbreak Period: A Scoping Review COVID-19 and comorbidities: Deleterious impact on infected patients SARS-CoV-2 Cell Entry Depends on ACE2 and TMPRSS2 and Is Blocked by a Clinically Proven Protease Inhibitor COVID-19 and the cardiovascular system COVID-19: the vasculature unleashed Endothelial dysfunction and platelet hyperactivity in type 2 diabetes mellitus: Molecular insights and therapeutic strategies Endothelial dysfunction in obesity Elevated Glucose Levels Favor Sars-Cov-2 Infection and Monocyte Response Through a Hif-1α/Glycolysis Dependent Axis COVID-19 pandemic, coronaviruses, and diabetes mellitus Clinical characteristics of coronavirus disease 2019 in China Are Patients With Alcohol Use Disorders at Increased Risk for Covid-19 Infection? Alcohol Alcohol